“Um corpo saudável não é apenas ter ausência das doenças, mas a harmonia que ocorre entre o corpo, a mente, a alma, o Espírito, bem como no seu meio social”.
A psicanálise
como uma ciência psico-social, tem apresentado um diferencial na soma desse conhecimento,
com as experiências multiculturais e interdisciplinares no contexto dos Grupos
Operativos de Aprendizagem. Entretanto, essa teoria não se limita apenas nas
dimensões patológicas, mas também na prevenção das doenças psíquica como: ansiedade,
solidão, pensamento suicida, depressão, medo, carências, frustrações más
elaboradas, vícios (álcool, drogas, tabaco, pornografia, medicamentos...), e
assim por diante. Porém, os Pequenos Grupos/Células das instituições
religiosas, os grupos de áreas afins para discursões dos assuntos dos
interesses pessoais ou profissionais, acabam desempenhando um papel importante
nessa direção, pois, eles funcionam como um conhecimento empírico,
que podem contribuir nos processos dos ajustes psico-social dos seus
integrantes.
Sendo assim,
é quase impossível pensar nas ideias de inclusão e de cidadania sem a compreensão
dos mecanismos inconscientes dos diferentes grupos que formam as sociedades. Vale
lembrar que cada sujeito pertence simultaneamente a diferentes grupos formais e
informais, portanto, são confrontados com uma pluralidade de identidades ao
longo das suas vidas. Pluralidade que pode trazer crescimento, mas também
conflitos.
Os processos
de formação e funcionamento de um grupo em tarefa, e as grandes dificuldades
encontradas na organização, inquietaram o psiquiatra e psicanalista argentino
Pichon-Rivière (1907-1977), considerado por muitos o maior analista
latino-americano. Ele orientou seus estudos, seminários, cursos e conferências
para diversas formas de práticas de grupos, desde a criação em 1947 do que ele
chamava grupo “em tarefa”, ou “grupo operativo”, que procurava responder às
duas angústias fundamentais da vida social: o medo da perda, isto é,
perder o que já se tem; o temor do ataque, ou seja, o temor frente ao
desconhecido. Com seu magistério, Pichon-Rivière exerceu enorme
fascínio sobre seus discípulos e contemporâneos, principalmente no que diz
respeito aos jovens estudantes da Escola de Psicologia Social, fundada por ele
em 1959 na cidade de Buenos Aires.
Já em
1955, Pichon-Rivière e o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981) se
conheceram e se aproximaram. Ambos tinham grande apreço pelo surrealismo. Lacan
recebeu em sua casa Pichon em companhia do poeta surrealista Tristan Tzara (1896-1963).
Depois, o psicanalista francês apresentou o argentino ao poeta e teórico do
surrealismo André Breton (1896-1966). Pichon foi responsável pela introdução do
lacanismo em seu país. Por sua vez, Pichon interessou-se pelos dois grandes
escritores da modernidade literária que exprimiram, por meio de sua escrita
poética, a ideia de mudar o homem a partir da fórmula “eu é um outro”: Arthur
Rimbaud (1854-1891) e Lautréamont (1846-1870). Interessando-se tanto pela
medicina, como pela poesia e pela política, os trabalhos de Pichon contribuíram
para estabelecer uma ligação entre as duas vias de implantação da psicanálise
na Argentina: a via literária (cultura, educação) e a via terapêutica
(psicologia, psiquiatria).
Além disso,
o manejo dos grupos restritos (até 25 pessoas) é parte do trabalho de vários
profissionais nos dias de hoje no contexto do ensino e aprendizagem. Porém,
para o manejo em Grupos Operativos Terapêuticos deve ser de 10 a 15 pessoas. Para
proporcionar um ambiente de crescimento, amadurecimento, autopercepção e bem
estar dos integrantes. Esse tipo de trabalho nos remete a concepções mais ou
menos conscientes sobre o estar humano em conjuntos e sobre os modos e
objetivos de intervenções nesses conjuntos. Eles têm como proposta apresentar
os conceitos centrais que instrumentalizem uma ação e uma reflexão sobre os
grupos. As ideias centrais vêm da teoria do médico psiquiatra Pichon-Rivière.
Nessa
corrente gostaríamos de destacar o campo das teorias psicanalíticas de grupo
(KAËS, 1993, 1999, 2007) cuja apresentação constitui um importante subproduto
do texto ao estabelecer diálogos entre diferentes pesquisadores de influência
psicanalítica. As referências a Kurt Lewin, à Gestalt e à dialética são também
importantes na medida em que contribuem para o estabelecimento de outros
diálogos.
Lei
fundamental da dialética: A dialética postula que a realidade é
contraditória em si e que os contrários se interpenetram, sendo impossível
dividir uma unidade de análise de modo a eliminar a contradição. Disso decorre
a negação da visão platônica de que a verdade seria a superação das
contradições do mundo sensível, bem como uma opção ao formalismo aristotélico.
Lei da
negação da negação: Aceitar o caráter universal da contradição não
significa abrir mão de elaborar suas manifestações particulares. De fato, pela
dialética, quando um par antitético aparece, essa contradição pede uma
resolução, resolução esta que não será um meio-termo do par antitético, mas
algo que o substitua em um “nível mais elevado”. O verbo que Hegel utiliza em
alemão é aufheben, que possui o significado de negação, de conservação e de
elevação a um nível mais alto (ARANHA, 1993, p. 89; e também segundo o
dicionário LANGENSCHIEDTS, 1999). Assim, temos uma tese (A), uma antítese (não
A) e algo que supera essa contradição, ao qual poderíamos chamar síntese, ou
superação, ou ainda ultrapassagem, e representar pela letra B, para fins
didáticos.
Lei da
transformação da quantidade em qualidade: Um outro modo de
descrever a superação é dizer que ela representa uma mudança de qualidade, e
não só de quantidade, no processo. Instala-se assim uma ruptura, o par
antitético que organizava a vida psíquica do grupo pode ser deixado para trás
de modo que o grupo venha a ser organizado por um novo par. Esses são os
momentos representados pela curva ascendente no modelo da espiral de
Pichon-Rivière. Um exemplo bastante utilizado para a explicação desta lei é o
da fervura da água. A água é esquentada progressivamente, o que podemos pensar
como aumentos de quantidade, até atingir os 100 ºC, quando entra em ebulição,
passando do estado líquido para o gasoso, o que representa uma mudança de
qualidade.
A dialética
é movimento, a enfermidade é a negação desse movimento. O movimento
dialético, tal como vimos descrevendo nos grupos, pode ser interrompido, dando
origem ao que Pichon-Rivière chama de estereotipia. A
saúde psíquica, como Bleger afirma em Psicohigiene y Psicología Institucional
(1999a), não deve referir-se somente à ausência de patologias, mas é também
tributária do movimento da espiral dialética. Fazer com que os papéis circulem
dentro do grupo, superar as estereotipias, gerar novas possibilidades de
compreensão: essas são as formas que assume a promoção da saúde dentro do grupo
operativo. Mas o que leva à paralisação da espiral? Para Pichon-Rivière é a fantasia
inconsciente que impede o desenrolar do processo. Fantasia inconsciente que
remeteria, em última análise, a angústias depressivas e paranoides relativas à
mudança. As depressivas existiriam porque todo salto qualitativo da dialética
implica a perda de uma situação anterior (e de um tipo de vínculo com o mundo
construído nela); as paranoides, porque entramos em uma situação psiquicamente
nova, para a qual não nos sentimos preparados.
Assim,
a visão de saúde de Pichon-Rivière pressupõe uma ação humana em que figurem
integradamente o sentir, o pensar e o agir. Só quando há essa integração
é que se pode falar de tarefa. Sublinha-se ainda que, na visão pichoniana, como
Bleger já havia aludido antes, o natural seria a integração dessas esferas,
sendo a dissociação um mecanismo de defesa acionado para a proteção contra as
angústias que circulam entre elas. É nesse registro, da “alienação” ou
fragmentação do membro do grupo, que se coloca o problema pichoniano da
“impostura”. Como define o próprio autor:
Se o
grupo trabalha de modo a permitir o aparecimento e a superação das contradições
tanto em seus aspectos racionais quanto emotivos o coordenador não tem
necessidade nenhuma de intervir. Entretanto, se o grupo fica preso em um certo
nível da espiral, se não é possível a superação dialética, ou seja, se há uma
paralisia do movimento no grupo, espera-se que uma intervenção do coordenador
possa ajudar a restabelecer o ciclo dialético. Lembramos que Pichon-Rivière
acredita que as fantasias inconscientes seriam os obstáculos a esse movimento;
nessa perspectiva, a explicitação dos conteúdos latentes seria uma forma
privilegiada de atuação do coordenador. No entanto, o que caracteriza a
intervenção adequada é seu caráter operativo, ou seja, a possibilidade de
restituir o movimento dialético ao grupo, independentemente do modo ou conteúdo
da intervenção.
Pichon-Rivière
começou a trabalhar com grupos na medida em que observou a influência do grupo
familiar em seus pacientes. Sua prática psiquiátrica esteve subsidiada
principalmente pela psicanálise, pela filosofia e pela psicologia social. Para o
autor, o objeto de formação do psicanalista devia instrumentalizar o sujeito
para uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que
estavam inseridos. Aprender em grupo significava conviver com uma leitura
criativa e crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para
as dúvidas e para as novas inquietações.
“Sirvam aos seus senhores de boa
vontade, como servindo ao Senhor, e não aos homens, porque vocês sabem que o
Senhor recompensará cada um pelo bem que praticar, seja escravo, seja livre”.
Efésios 6: 7-8
Fonte: www.revistaeducacao.com.br/2017/11/01.
Acesso: 05.08.2021.
Pablo Castanho. UMA INTRODUÇÃO
AOS GRUPOS OPERATIVOS: TEORIA E TÉCNICA. Revista do NESME, v.9, n. 1, pp 1-60,
2012.
Paula Silva
Instituto Telifá – Automelhoramento
Psicanálise/Biomédica/Dependência
Química/Espiritualidade
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