“Quando a boca fala, o corpo sara”.
O sistema
familiar tem passado por fortes pressões na direção das mudanças que possam
serem relevantes para essa geração, porém, o maior desafio está na comunicação,
pois os indivíduos ainda tem uma certa resistência em expor suas fragilidades,
que muitas vezes não estão preparados para interpretar suas próprias dores.
Na visão hebraica diz o seguinte: Quando
se trata de tentação ou vício, não se pode ser racional e educado. Você deve
ser determinado, implacável e firme. Deve repetir de maneira teimosa e monótona
o mesmo “não” muitas e muitas vezes. Jamais abra espaço para uma nuance,
negociação ou ambivalência. No momento em que você começa a explicar e
justificar seu comportamento, é provável que perca a batalha. Somente depois de
um “não” absoluto e não negociável você pode continuar com o argumento
intelectual por trás da sua decisão.
A
discussão acerca da automutilação se insere, a nosso ver, neste campo de
problematizações. Na pesquisa buscamos analisar o estatuto do corpo na
sintomatologia contemporânea, destacando marcadamente as operações psíquicas
que estão em jogo em alguns quadros clínicos que se apresentam com maior
proeminência na atualidade, nomeadamente nas síndromes da anorexia mental
(Fortes, 2007; 2008; 2010) e da dor física crônica (Fortes, Winograd &
Medeiros, 2015). Tais antecedentes investigativos servem de parâmetros que
sustentam o desenvolvimento do presente artigo. A automutilação é um dos
enquadres pelo qual buscamos examinar a sintomatologia psicanalítica
contemporânea, entendendo-a como um quadro clínico que encena questões
fundamentais para a análise do eixo da alteridade e suas repercussões no mal estar
da atualidade, mais especialmente relativos à adolescência.
A
reflexão sobre a precariedade do campo da alteridade, sobre a ausência de um
outro que possa perceber o que ocorre por meio da prática da automutilação, é
fundamental para entendermos este modo de dor que se configura na descarga
direta de intensidades psíquicas na dimensão do corpo. É sobre este
estreitamento da dimensão da alteridade que pretendemos refletir no presente
trabalho. Cabe ressaltar que não somente no quadro da automutilação se revela a
quebra da experiência da alteridade. Segundo Birman (1999), o excesso de
narcisismo e o arrefecimento da relação com o outro constitui-se como marca
crucial nas modalidades de padecimento psíquico contemporâneo
Como
destino pulsional, a volta da pulsão em retorno a si mesmo expressa aqui a
impossibilidade de enunciação de intensidades e o predomínio automutilatório de
si mesmo. Neste contexto, o ato contra si mesmo denuncia a rasura nos destinos
dos investimentos psíquicos. Nesta mesma linha de investigação, Birman (2012),
em seu livro O sujeito na contemporaneidade, diferencia sofrimento e dor,
indicando essa como um traço característico dos padecimentos atuais e
inserindo-a em um espaço de ausência da mediação do outro. Com efeito, uma
marca pregnante dos padecimentos atuais é o fato de se expressarem por meio da
dor, a expensas da experiência de sofrimento.
Nesse
texto, Freud (1895/1976) apresenta, claramente, a fundamental necessidade da
presença do outro no processo de constituição do sujeito psíquico. A partir da
concepção de um desamparo inerente a condição humana, tem-se no texto de 1895,
a clara referência à implicação dos movimentos alternados de ausência e
presença do outro primordial para a instauração de recursos de enfrentamento e
metabolização da dor, ou seja, das intensidades psíquicas experimentadas. Estes
recursos são intrínsecos à singular forma do sujeito administrar suas
vicissitudes pulsionais.
Nesta
direção, além de abordar as diferenças entre dor e sofrimento, Birman (2012)
apresenta dois outros traços psíquicos que caracterizam o registro do sujeito
nos sofrimentos contemporâneos, quais sejam, o desalento e o espaço. O primeiro
se diferenciaria da experiência subjetiva do desamparo, noção desenvolvida por
Freud em vários de seus ensaios além do texto de 1895, e o segundo se materializaria
nos dias de hoje às custas da dimensão do tempo. Somos hoje, segundo Birman
(2012), mais inscritos subjetivamente nas esferas espaciais do que nas ordens
temporais ou históricas.
“Quem é cuidadoso no que fala evita muito sofrimento”. Provérbios
21:23
Fonte: Psicogente,
20 (38): pp. 353-367. Julio-Diciembre, 2017. Universidad Simón Bolívar.
Barranquilla, Colombia. ISSN 0124-0137 EISSN 2027-212X http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/psicogente.
Rabino Yosef Y. Jacobson é editor de Algemeiner.com, um site de notícias e comentários judaicos em
inglês e yidish. Rabino Jacobson também faz palestras sobre ensinamentos
chassídicos, sendo muito popular e bastante procurado. É autor da série de
fitas “Um Conto Sobre Duas Almas”.
Paula Silva
Instituto Telifá & Automelhoramento
Psicanalista Clínica/Biomédica/Dependência
Química/Espiritualidade
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