“A sexualidade não tem como uma única finalidade a procriação, mas a criação de um ambiente com novidades nas relações interpessoais”.
Na visão
hebraica, os seres humanos possuem três dimensões que movem a vida em conjunto:
a espiritualidade, a criatividade e a sexualidade.
Sendo assim,
podemos fazermos uma breve reflexão sobre a história da sexualidade na humanidade.
A
abordagem dos temas corpo, prazer e desejo pode ser investigada em distintos
momentos da obra de Michel Foucault, e sua articulação se estabelece,
especialmente, nos três volumes da História da sexualidade. Entretanto, como
pano de fundo, questões relacionadas a um contraponto entre o pensamento
foucaultiano e a psicanálise lacaniana. A temática do corpo recebe ênfases e
desenvolvimentos diferentes conforme a perspectiva metodológica e o foco das
pesquisas de Foucault nos campos do saber, do poder e da ética. Em um de seus
primeiros livros, O nascimento da clínica (1963), Foucault busca entender as
condições de possibilidade do aparecimento, no início do século XIX, da figura
moderna, científica, da medicina: a anátomo-clínica. A doença deixa, então, de
ser essência nosológica, espécie natural, estudada segundo o modelo da botânica,
para ser considerada, segundo o modelo da anatomia, realidade localizada no
espaço concreto, individual, do organismo doente. Essa atenção do médico para o
singular, para o que é próprio de cada um, é o que fará Lacan citar esse
trabalho de Foucault e destacar que, estruturalmente, a clínica psicanalítica
encontra suas bases nesse momento do nascer da clínica médica, “momento
originalmente recalcado no médico que a prorroga, transformando-se ele mesmo, a
partir desse momento, cada vez mais no filho perdido” (LACAN, 1998 [1966], p.
326, nota 2). Entretanto, a partir da década de 70, quando ocorre um deslocamento
de perspectiva no trabalho de Foucault, a partir de uma reformulação política,
teórica e metodológica, que o corpo recebe mais destaque, por se constituir em
um dos alvos privilegiados das relações de saber e poder (MACHADO, 1982).
Trata-se, agora, de uma “anatomia política”, de uma “história dos corpos”. Na
série de revoltas ocorridas nas prisões francesas nas décadas de 60 e 70, Foucault
constata algo paradoxal nas reivindicações e objetivos desses movimentos: eram
revoltas contra a miséria física das prisões (fome, superlotação, maus tratos),
mas também contra seu “conforto” (os atendimentos médicos, psicológicos e as
propostas educativas das prisões-modelo). Não eram, então, lutas apenas contra
o aspecto decadente e reacionário das prisões, mas também contra seu
aperfeiçoamento, sua modernização. Para Foucault, o que haveria de comum entre
esses protestos, à primeira vista distintos, seria o fato de que ambos se
rebelavam contra o investimento de poder em nível de corpo. A fim de
compreender essa “anatomia política”, ele realiza em Vigiar e punir (1975)2 uma
análise histórica de diferentes sistemas punitivos, desde os que utilizam
métodos violentos até os que usam métodos “suaves”, não tomando, entretanto,
como referência, a evolução das regras do Direito ou das ideias morais.
Foucault parte justamente do pressuposto de que todo poder tem um “corpo”, pois
se exerce por meio de diferentes mecanismos e instrumentos, sejam eles
cadafalsos, cerimônias, muros, olhares, medicamentos ou diagnósticos. Sua
“história dos corpos” busca pesquisar como o corpo foi percebido e valorizado
na história. O autor constata que “as relações de poder operam sobre ele de
modo imediato; elas o investem, o marcam, o dirigem, o supliciam, submetem-no a
trabalhos, obrigam-no a cerimônias, exigem-lhe sinais” (FOUCAULT, 1983). O
corpo não é, portanto, fixo ou constante, como quer a perspectiva naturalista,
mas pode ser modificado, aperfeiçoado, e suas necessidades produzidas e
organizadas de diferentes maneiras. Essa concepção traz a marca do pensamento
nietzschiano, pois, segundo Foucault, a genealogia é um tipo de história que
não se referência na consciência ou no Eu (com sua unidade e coerência), mas no
corpo e em tudo que se relaciona com ele: a alimentação, o clima, os valores. O
corpo, “lugar de dissolução do eu”, “volume em perpétua pulverização”, traz
consigo “em sua vida e em sua morte, em sua força e em sua fraqueza” a
inscrição de todos os acontecimentos e conflitos, erros e desejos (FOUCAULT,
1982, p. 22; Oscar Cirino, 2007).
A ideia
de que a miséria sexual provém da repressão (que é também efeito do mesmo
dispositivo que gerou a própria miséria) e que, para ser feliz, temos que
liberar nossa sexualidade, advém dos sexólogos, dos médicos ou de outros
detentores do saber, diz o autor. Estes apresentam a revelação (a eles) dos
segredos que oprimem o indivíduo como solução das frustrações sexuais em busca da
libertação. Tal discurso é, segundo FOUCAULT, um instrumento de controle e de
poder, pois sustenta a ideia de que é suficiente, para ser feliz, ultrapassar o
umbral do discurso e eliminar algumas proibições. Considera, então, que esse
discurso acaba por depreciar e esquadrinhar os movimentos de revolta e
libertação.
Tal
pressuposto levou à compreensão (errônea, segundo o autor) de que não há
diferença entre repressão e liberação do sexo, nem entre o discurso da censura e
o da contra censura. Ele alega que os movimentos ditos de "liberação
sexual" são movimentos de afirmação que partem do dispositivo da
sexualidade (que nos aprisiona); são movimentos que fazem com que o dispositivo
funcione até seu limite, mas que, em contrapartida, se livram dele e o
ultrapassam. Não especifica, entretanto, que limite é este, nem detalha como os
movimentos de libertação se livram e ultrapassam o dispositivo da sexualidade
que oprimiu o sexo. Mas, é nesta perspectiva que apresenta a superação da
repressão e da miséria sexual.
Segundo
o autor, atualmente, está se esboçando um movimento contra esta
"sexografia" que decifra o sexo como segredo universal. Trata-se de
fabricar outras formas de prazer, de relações, de coexistências, de laços de
amores. Em relação às crianças, começa a se esboçar um discurso em que a vida
da criança consiste basicamente em sexualidade. Por isso questiona se tal
discurso é libertador, se não aprisiona as crianças em um tipo de insalubridade
sexual; se a liberdade de não ser adulto consiste justamente em não estar
dependente de uma lei ou princípio, tão entediante, da sexualidade; e se não
seriam as relações polimorfas (ou seja, as relações sem padrões de
comportamento) a própria infância, caso isso fosse possível. Mas considera que
o polimorfismo, ao contrário, é visto pelos adultos (por questão de segurança)
como perversidade. Desta forma, a criança passa a ser oprimida inclusive por
aqueles que pretendem libertá-la (Ribeiro, 1999).
É neste
contexto, que na visão hebraica a sexualidade ganha uma perspectiva diferente das
abordagens citadas acima. Para termos como uma lição de aplicação podemos
usarmos como referência a história de um israelita líder do povo judeu, que recebeu
uma missão de libertar o seu povo da opressão dos povos filisteus. Esse homem
se chamava “Sansão”. Ele era um homem que tinha uma força fora do comum, no
entanto, não foi capaz de dominar suas inclinações sexuais. Porém, por trás desta
realidade havia um propósito para trazer uma grande lição tanto, para o povo judeu,
quanto para os povos filisteus.
Os povos
filisteus são frutos das trocas dos casais. Eles têm como significado do seu nome
LIBERTINAGEM.
O maior
prazer não estar na liberalidade, mas pela sua individualidade e identidade. O verdadeiro
prazer estar naquilo que é proibido, no mistério. Na hora que você não tem
restrição, você perde a noção do EU. Todo o relacionamento tem que ser uma mistura,
daquilo que é agradável, confortável, mas também com aquilo que causa atrito. Se
você não tem atrito, não gera o amor, porque ele é o resultado do aperfeiçoamento
das relações nas suas diferenças. Além disso, na hora que você tira as leis, as
restrições, você também perde a ESSÊNCIA DA SUA INDIVIDUALIDADE. Mas, por outro
lado, nós temos um outro tipo de força que vem da nossa vulnerabilidade, da
nossa fragilidade, onde podemos descobrir uma capacidade que nos ajuda a conter
nossos instintos, para não usarmos as nossas energias na hora errada, com as pessoas
que não irão contribuir com o nosso bem estar físico, mental, espiritual,
social e sexual. Assim como aquela força de Sansão não vinha dele. Também, não
podemos contar apenas com a nossa força humana, para conter os nossos instintos
diante dos desafios no dia a dia das nossas vidas.
“Sansão
clamou ao SENHOR e disse: SENHOR Deus, peço-te lembres de mim, e dá-me força só
esta vez, ó Deus, para que me vingue dos filisteus, ao menos por um dos meus
olhos”. Juízes 16:28
1. Oscar
Cirino. O desejo, os corpos e os prazeres em Michel Foucault. Mental- ano V -
n. 8 - Barbacena - jun. p. 77-89, 2007.
2. Moneda
Oliveira Ribeiro. A sexualidade segundo Michel Foucault: uma contribuição para
a enfermagem. Rev. Esc. Enf. USP. v. 33, n. 4, p. 358-63, dez. 1999.
Paula
Silva
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