quinta-feira, 17 de junho de 2021

SEXUALIDADE: A FORÇA QUE MOBILIZA O AMOR MESMO NA DOR


“A sexualidade não tem como uma única finalidade a procriação, mas a criação de um ambiente com novidades nas relações interpessoais”.

 

Na visão hebraica, os seres humanos possuem três dimensões que movem a vida em conjunto: a espiritualidade, a criatividade e a sexualidade.

Sendo assim, podemos fazermos uma breve reflexão sobre a história da sexualidade na humanidade.

A abordagem dos temas corpo, prazer e desejo pode ser investigada em distintos momentos da obra de Michel Foucault, e sua articulação se estabelece, especialmente, nos três volumes da História da sexualidade. Entretanto, como pano de fundo, questões relacionadas a um contraponto entre o pensamento foucaultiano e a psicanálise lacaniana. A temática do corpo recebe ênfases e desenvolvimentos diferentes conforme a perspectiva metodológica e o foco das pesquisas de Foucault nos campos do saber, do poder e da ética. Em um de seus primeiros livros, O nascimento da clínica (1963), Foucault busca entender as condições de possibilidade do aparecimento, no início do século XIX, da figura moderna, científica, da medicina: a anátomo-clínica. A doença deixa, então, de ser essência nosológica, espécie natural, estudada segundo o modelo da botânica, para ser considerada, segundo o modelo da anatomia, realidade localizada no espaço concreto, individual, do organismo doente. Essa atenção do médico para o singular, para o que é próprio de cada um, é o que fará Lacan citar esse trabalho de Foucault e destacar que, estruturalmente, a clínica psicanalítica encontra suas bases nesse momento do nascer da clínica médica, “momento originalmente recalcado no médico que a prorroga, transformando-se ele mesmo, a partir desse momento, cada vez mais no filho perdido” (LACAN, 1998 [1966], p. 326, nota 2). Entretanto, a partir da década de 70, quando ocorre um deslocamento de perspectiva no trabalho de Foucault, a partir de uma reformulação política, teórica e metodológica, que o corpo recebe mais destaque, por se constituir em um dos alvos privilegiados das relações de saber e poder (MACHADO, 1982). Trata-se, agora, de uma “anatomia política”, de uma “história dos corpos”. Na série de revoltas ocorridas nas prisões francesas nas décadas de 60 e 70, Foucault constata algo paradoxal nas reivindicações e objetivos desses movimentos: eram revoltas contra a miséria física das prisões (fome, superlotação, maus tratos), mas também contra seu “conforto” (os atendimentos médicos, psicológicos e as propostas educativas das prisões-modelo). Não eram, então, lutas apenas contra o aspecto decadente e reacionário das prisões, mas também contra seu aperfeiçoamento, sua modernização. Para Foucault, o que haveria de comum entre esses protestos, à primeira vista distintos, seria o fato de que ambos se rebelavam contra o investimento de poder em nível de corpo. A fim de compreender essa “anatomia política”, ele realiza em Vigiar e punir (1975)2 uma análise histórica de diferentes sistemas punitivos, desde os que utilizam métodos violentos até os que usam métodos “suaves”, não tomando, entretanto, como referência, a evolução das regras do Direito ou das ideias morais. Foucault parte justamente do pressuposto de que todo poder tem um “corpo”, pois se exerce por meio de diferentes mecanismos e instrumentos, sejam eles cadafalsos, cerimônias, muros, olhares, medicamentos ou diagnósticos. Sua “história dos corpos” busca pesquisar como o corpo foi percebido e valorizado na história. O autor constata que “as relações de poder operam sobre ele de modo imediato; elas o investem, o marcam, o dirigem, o supliciam, submetem-no a trabalhos, obrigam-no a cerimônias, exigem-lhe sinais” (FOUCAULT, 1983). O corpo não é, portanto, fixo ou constante, como quer a perspectiva naturalista, mas pode ser modificado, aperfeiçoado, e suas necessidades produzidas e organizadas de diferentes maneiras. Essa concepção traz a marca do pensamento nietzschiano, pois, segundo Foucault, a genealogia é um tipo de história que não se referência na consciência ou no Eu (com sua unidade e coerência), mas no corpo e em tudo que se relaciona com ele: a alimentação, o clima, os valores. O corpo, “lugar de dissolução do eu”, “volume em perpétua pulverização”, traz consigo “em sua vida e em sua morte, em sua força e em sua fraqueza” a inscrição de todos os acontecimentos e conflitos, erros e desejos (FOUCAULT, 1982, p. 22; Oscar Cirino, 2007).

A ideia de que a miséria sexual provém da repressão (que é também efeito do mesmo dispositivo que gerou a própria miséria) e que, para ser feliz, temos que liberar nossa sexualidade, advém dos sexólogos, dos médicos ou de outros detentores do saber, diz o autor. Estes apresentam a revelação (a eles) dos segredos que oprimem o indivíduo como solução das frustrações sexuais em busca da libertação. Tal discurso é, segundo FOUCAULT, um instrumento de controle e de poder, pois sustenta a ideia de que é suficiente, para ser feliz, ultrapassar o umbral do discurso e eliminar algumas proibições. Considera, então, que esse discurso acaba por depreciar e esquadrinhar os movimentos de revolta e libertação.

Tal pressuposto levou à compreensão (errônea, segundo o autor) de que não há diferença entre repressão e liberação do sexo, nem entre o discurso da censura e o da contra censura. Ele alega que os movimentos ditos de "liberação sexual" são movimentos de afirmação que partem do dispositivo da sexualidade (que nos aprisiona); são movimentos que fazem com que o dispositivo funcione até seu limite, mas que, em contrapartida, se livram dele e o ultrapassam. Não especifica, entretanto, que limite é este, nem detalha como os movimentos de libertação se livram e ultrapassam o dispositivo da sexualidade que oprimiu o sexo. Mas, é nesta perspectiva que apresenta a superação da repressão e da miséria sexual.

Segundo o autor, atualmente, está se esboçando um movimento contra esta "sexografia" que decifra o sexo como segredo universal. Trata-se de fabricar outras formas de prazer, de relações, de coexistências, de laços de amores. Em relação às crianças, começa a se esboçar um discurso em que a vida da criança consiste basicamente em sexualidade. Por isso questiona se tal discurso é libertador, se não aprisiona as crianças em um tipo de insalubridade sexual; se a liberdade de não ser adulto consiste justamente em não estar dependente de uma lei ou princípio, tão entediante, da sexualidade; e se não seriam as relações polimorfas (ou seja, as relações sem padrões de comportamento) a própria infância, caso isso fosse possível. Mas considera que o polimorfismo, ao contrário, é visto pelos adultos (por questão de segurança) como perversidade. Desta forma, a criança passa a ser oprimida inclusive por aqueles que pretendem libertá-la (Ribeiro, 1999).

É neste contexto, que na visão hebraica a sexualidade ganha uma perspectiva diferente das abordagens citadas acima. Para termos como uma lição de aplicação podemos usarmos como referência a história de um israelita líder do povo judeu, que recebeu uma missão de libertar o seu povo da opressão dos povos filisteus. Esse homem se chamava “Sansão”. Ele era um homem que tinha uma força fora do comum, no entanto, não foi capaz de dominar suas inclinações sexuais. Porém, por trás desta realidade havia um propósito para trazer uma grande lição tanto, para o povo judeu, quanto para os povos filisteus.

Os povos filisteus são frutos das trocas dos casais. Eles têm como significado do seu nome LIBERTINAGEM.

O maior prazer não estar na liberalidade, mas pela sua individualidade e identidade. O verdadeiro prazer estar naquilo que é proibido, no mistério. Na hora que você não tem restrição, você perde a noção do EU. Todo o relacionamento tem que ser uma mistura, daquilo que é agradável, confortável, mas também com aquilo que causa atrito. Se você não tem atrito, não gera o amor, porque ele é o resultado do aperfeiçoamento das relações nas suas diferenças. Além disso, na hora que você tira as leis, as restrições, você também perde a ESSÊNCIA DA SUA INDIVIDUALIDADE. Mas, por outro lado, nós temos um outro tipo de força que vem da nossa vulnerabilidade, da nossa fragilidade, onde podemos descobrir uma capacidade que nos ajuda a conter nossos instintos, para não usarmos as nossas energias na hora errada, com as pessoas que não irão contribuir com o nosso bem estar físico, mental, espiritual, social e sexual. Assim como aquela força de Sansão não vinha dele. Também, não podemos contar apenas com a nossa força humana, para conter os nossos instintos diante dos desafios no dia a dia das nossas vidas.

“Sansão clamou ao SENHOR e disse: SENHOR Deus, peço-te lembres de mim, e dá-me força só esta vez, ó Deus, para que me vingue dos filisteus, ao menos por um dos meus olhos”. Juízes 16:28

 

 

1.    Oscar Cirino. O desejo, os corpos e os prazeres em Michel Foucault. Mental- ano V - n. 8 - Barbacena - jun. p. 77-89, 2007.

2.    Moneda Oliveira Ribeiro. A sexualidade segundo Michel Foucault: uma contribuição para a enfermagem. Rev. Esc. Enf. USP. v. 33, n. 4, p. 358-63, dez. 1999.

Paula Silva

Instituto Telifá & Automelhoramento

Psicanálise/Biomédica/Dependência Química/Espiritualidade

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